A partir da análise do que define como "forma shandiana", Sergio Paulo Rouanet aproxima e analisa obras de Machado de Assis, Laurence Sterne, Xavier de Maistre, Almeida Garrett e Diderot.
A partir da análise do que define como "forma shandiana", Sergio Paulo Rouanet aproxima e analisa obras de Machado de Assis, Laurence Sterne, Xavier de Maistre, Almeida Garrett e Diderot.
Nas primeiras linhas de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, o narrador avisa que adotou uma forma semelhante à de Sterne e Xavier de Maistre e que escreveu seu livro com a pena da galhofa e a tinta da melancolia. Diz ainda que em vez de começar a história a partir do início, preferiu contar primeiro o fim. No prólogo da terceira edição da obra, Machado adiciona o nome de Almeida Garrett aos dos inspiradores daquela forma "difusa e livre" - todos eles viajantes, observa.
Para Rouanet, os elementos enumerados por Machado bastam para definir uma forma, que denominou "forma shandiana" - termo derivado do Tristram Shandy, de Sterne -, e cujas características estruturais são: hipertrofia da subjetividade; digressividade e fragmentação; tratamento especial dado ao tempo e ao espaço; e interpenetração de riso e melancolia. Os adeptos dessa forma, continua Rouanet, formam uma linhagem - e acrescenta um autor à lista elaborada por Machado: Diderot.
Em Riso e melancolia, Rouanet estuda o funcionamento da forma shandiana em todos os autores que a cultivaram, abrindo o caminho para um melhor conhecimento tanto do nosso maior romancista como da linhagem intelectual a que ele se filiou. Com sua linguagem clara e atraente, seu humor e sua erudição, oferece novas percepções aos leitores e abre outras portas para a leitura dos herdeiros de Laurence Sterne.