Não é romance policial, mas um crime deixa o leitor ansioso para chegar ao inusitado desfecho da história. Não é história de amor, mas revela uma paixão capaz dos maiores desatinos. Não é denúncia política, mas trata com humor dos desmandos do poder.
Não é romance policial, mas um crime deixa o leitor ansioso para chegar ao inusitado desfecho da história. Não é história de amor, mas revela uma paixão capaz dos maiores desatinos. Não é denúncia política, mas trata com humor dos desmandos do poder.
A pista de gelo foi o primeiro romance publicado por Roberto Bolaño, em 1993. Nele já estão presentes os elementos fundamentais de seu universo literário, a começar pela narração em primeira pessoa, feita por diversos personagens, que prenuncia as posteriores polifonias alucinantes, como em Os detetives selvagens. Em A pista de gelo, três personagens se alternam na narração dos estranhos eventos que acontecem em Z, um pequeno balneário da costa catalã: Remo Morán, chileno, pretenso escritor que venceu na vida como dono de bar e loja de bijuterias; Gaspar Heredia, poeta mexicano desgarrado que vive de biscates e no momento é o negligente vigia noturno de um camping; e Enric Rosquelles, zeloso funcionário de confiança da prefeita. Seus destinos se cruzam em torno de uma bela patinadora, uma pista de gelo clandestina - e um assassinato.
O que nos leva a outra matriz da ficção de Bolaño: o romance policial, que lhe empresta a agilidade da narrativa, a capacidade de revelar a trama aos poucos e envolver o leitor como o detetive que analisa as pistas e desvenda o mistério. Mas Bolaño prefere lançar seu olhar a um tempo irônico e compassivo ao mundo dos desgarrados, dos que sofrem com os transtornos do amor, sonham com pouco e não têm quase nada a perder.