Duas histórias de amor e dor, alinhavadas pela força reveladora do sonho e da literatura. O que é traição? Existe uma ética do corpo? David Grossman aproxima sua lente sensível para mostrar muito de perto as histórias de duas famílias em crise e questionar os limites da transgressão.
Duas histórias de amor e dor, alinhavadas pela força reveladora do sonho e da literatura. O que é traição? Existe uma ética do corpo? David Grossman aproxima sua lente sensível para mostrar muito de perto as histórias de duas famílias em crise e questionar os limites da transgressão.
Na novela "Desvario", do banco de trás de um carro e com a perna quebrada, Shaul Krauss, um intelectual israelense de 55 anos, conta à cunhada Ester, uma consultora de amamentação, detalhes do drama de seu amor pela esposa, Elisheva, que há dez anos leva uma vida dupla com Paul, um artista russo. No caminho até Orcha, ao sul de Tel Aviv, onde a esposa se retira todos os anos por quatro dias, seguindo sua "incontrolável necessidade de ir de viagem para longe e ficar sozinha", o relato doloroso de Shaul, interrompido por sonhos delirantes de marido traído, vai provocando um mergulho na subjetividade de Ester, que relembra um grande amor anterior ao seu casamento.
Se a primeira novela fala de ciúme e dos extremos da imaginação apaixonada, "No corpo eu entendo" trata da difícil reconciliação de uma mãe, no leito de morte, com a filha mais velha. No presente da narrativa, a filha lê para a mãe agonizante um conto que escreveu, a partir de um mosaico de fragmentos de lembranças, sobre a história de um amor proibido protagonizado por um misterioso menino de quinze anos abusado pelo pai.
Na imaginação torturada dos narradores de Grossman, são os laços inesperados de afeto que, como num jogo literário de espelhos, dão força à narrativa.