Primeiro livro de Georges Perec, As coisas mostra um casal parisiense de vinte e poucos anos dividido entre aspirações intelectuais, a vida boêmia e o chamado incontrolável da sociedade de consumo.
Primeiro livro de Georges Perec, As coisas mostra um casal parisiense de vinte e poucos anos dividido entre aspirações intelectuais, a vida boêmia e o chamado incontrolável da sociedade de consumo.
Duas décadas depois da chegada às livrarias brasileiras de A vida modo de usar, os leitores terão a oportunidade de conhecer a gênese da peculiar trajetória literária de Perec. As coisas, de 1965, pode ser lido no quadro da emergência do contexto de intertextualidade. Assinado por um jovem quase desconhecido, o livrinho saído pela editora Julliard corporificava um programa de trabalho definido, uma tomada de posição diante dos dois principais modelos então vigentes nas letras francesas: a literatura engajada (ou sartriana) e o nouveau roman.
Tendo escolhido como protagonista um casal de vinte e poucos anos, na condição de exemplar típico de um determinado meio social, Perec declarou que sua ambição foi expor "tudo o que pode ser dito a propósito da fascinação que exercem sobre nós os objetos". Jérôme e Sylvie são "psicossociólogos", emprego que na verdade não constitui uma profissão, mas que emerge com promessas de ascensão rápida na esteira do nascimento das agências de publicidade. Aplicando questionários de estudos motivacionais, atividade que lhes deixa tempo para débeis veleidades intelectuais e para a vida boêmia, no fundo os dois jovens apenas hesitam diante do inevitável: um cargo dentro de uma grande agência, passaporte para um apartamento mais amplo e para as mercadorias ostentadas nas vitrines e nas revistas.