Em 72 textos breves e inclassificáveis, híbridos de receita de cozinha e simpatia, conselho sentimental e aforismo filosófico, Abad nos oferece um saboroso pot-pourri, com fortes poderes de consolação.
Em 72 textos breves e inclassificáveis, híbridos de receita de cozinha e simpatia, conselho sentimental e aforismo filosófico, Abad nos oferece um saboroso pot-pourri, com fortes poderes de consolação.
Héctor Abad nos revela neste seu Livro de receitas para mulheres tristes mais da sua sensibilidade humana e muito do seu talento literário, adotando gêneros desprezados, que nem literários são considerados, e os reinventando como boa literatura, sem lhes roubar a simplicidade.A ironia está presente em todas as páginas, mas nunca é corrosiva. Logo de saída, o autor anuncia que ninguém tem a receita da felicidade, para em seguida afirmar que em seu "largo trato com frutos e verduras, com ervas e raízes, com músculos e vísceras de diversos animais silvestres e domésticos" descobriu "alguns atalhos de consolação". E como um bom sábio-bruxo, sempre pronto a sorrir de si mesmo enquanto aconselha, faz boas mágicas com as palavras. Fala num cálido sussurro, como que socorrendo uma irmã, convidando-a a refletir sem alarde, com conselhos simples, e a dar umas boas risadas com suas piadas de alto calão.E assim, quase não querendo, visita com esses atalhos os principais tópicos que mais preocuparam os filósofos do bem viver. Fala da angústia diante da finitude e da velhice, da imensa dor do luto, dos dilemas éticos nas relações amorosas. Mas também de questões mais comezinhas - e por vezes mais prementes -, como os incômodos da menstruação, a frigidez, o mau hálito, a constipação intestinal.Não há hierarquia, porém. Cada texto tem sua cor, sua filigrana, e juntos formam um precioso livro-caleidoscópio que dá pena de largar e vontade de reler sem fim, sob outra luz. O convite é claro e transparente: "leia este falacioso ensaio de feitiçaria: o encantamento, se valer, nada mais é que seu som - o que cura é o ar que as palavras emanam". Feliz de quem o aceitar.