Um relato cru da descida de um homem ao inferno, sem lugar para vítimas e culpados fáceis: detentos, carcereiros, funcionários, são todos peças de uma engrenagem brutal, conformada para retirar do indivíduo a possibilidade de uma segunda chance.
Um relato cru da descida de um homem ao inferno, sem lugar para vítimas e culpados fáceis: detentos, carcereiros, funcionários, são todos peças de uma engrenagem brutal, conformada para retirar do indivíduo a possibilidade de uma segunda chance.
Luiz Alberto Mendes passou boa parte da vida em reformatórios e penitenciárias do estado de São Paulo. Neste livro conta a experiência que o levou à escrita e ao trabalho voluntário, e também mostra como encontrou nas amizades e nas relações amorosas um antídoto contra o desespero.
Às cegas, nova obra do autor de Memórias de um sobrevivente (2001), acompanha um período que vai de sua aprovação no vestibular de direito, em 1982, às suas primeiras tentativas literárias, já nos anos 90. Em nenhum momento Mendes se apresenta como vítima. No entanto, não deixa de mostrar as engrenagens de um sistema carcerário brutal, montado para dificultar ao máximo o caminho de quem espera por uma segunda chance.
Uma história trágica, como a de Às cegas, deixa pouca margem para a esperança. No final da leitura, contudo, fica o retrato de alguém que procurou uma saída possível em meio à descida ao inferno: "Vivi, e num mundo de homens estilhaçados. O medo permeava, e tinha cheiro de flores molhadas, surdamente pisadas à porta de cemitérios. Mas mesmo assim existi, e com intensidade".