Nove histórias que mesclam experiências pessoais, reflexão e pesquisa histórica. Entre os personagens, o navegador Walter Raleigh, o revolucionário Francisco Miranda e o próprio Naipaul - Prêmio Nobel de Literatura 2001 -, que relata cenas de sua juventude na Inglaterra dos anos 50.
Nove histórias que mesclam experiências pessoais, reflexão e pesquisa histórica. Entre os personagens, o navegador Walter Raleigh, o revolucionário Francisco Miranda e o próprio Naipaul - Prêmio Nobel de Literatura 2001 -, que relata cenas de sua juventude na Inglaterra dos anos 50.
As nove histórias que compõem Um caminho no mundo, de V. S. Naipaul, são calcadas, algumas, em material claramente autobiográfico, enquanto outras resultam de intenso esforço de pesquisa bibliográfica e documental. Em todas se imprime a marca do famoso "estilo vazio" de Naipaul, que coloca o leitor face a face com a verdade íntima de fatos e pessoas.A tarefa de narrar é delegada aos próprios personagens, vários dentro de um mesmo relato, numa colagem de vozes extremamente bem urdida e capaz de surpreender o leitor a cada instante. Podemos ouvir a "voz" de Sir Walter Raleigh e de membros de sua entourage, em pleno século XVII, no golfo que separa a ilha de Trinidad da Venezuela, durante a última incursão do nobre e aventureiro inglês à região em que supunha estar o mítico Eldorado. Ou a de Francisco Miranda, revolucionário frustrado do século XIX, prisioneiro de ambições delirantes, que sonhava, como Bolívar, libertar o continente sul-americano do colonialismo europeu.Figuras pós-coloniais e bem mais prosaicas também desfilam suas realidades contraditórias pelas páginas de Um caminho no mundo. É o caso de um folclórico trinidadense de ascendência indiana - condição que partilha com o próprio autor - coberto de adereços de ouro, que se faz passar por um rico comerciante venezuelano num vôo comercial sobre o Caribe. Ou de outro indiano de Trinidad, que se dedica a tarefas tão díspares quanto fazer decoração de bolos e preparar cadáveres para o velório.Todos têm algo em comum: vivem grandes mentiras, e a consciência que eventualmente exibem de suas inconsistências não é suficiente para mudar-lhes o destino. O único que parece fugir à regra é o próprio autor-narrador, que nos oferece cenas significativas do seu esforço de se estabelecer como escritor na Inglaterra dos anos 50, para onde se mudou ainda jovem vindo de um remoto Caribe.