A partir do século XVIII, os maus odores, antes tolerados, tornam-se insuportáveis, passando a ser alvo de uma verdadeira cruzada em nome da higiene. Com erudição e perspicácia, Corbin mostra como esse processo de purificação coincide com a ascensão da ordem burguesa.
A partir do século XVIII, os maus odores, antes tolerados, tornam-se insuportáveis, passando a ser alvo de uma verdadeira cruzada em nome da higiene. Com erudição e perspicácia, Corbin mostra como esse processo de purificação coincide com a ascensão da ordem burguesa.
Saberes e Odores é um livro fascinante sobre aquele que, durante muito tempo, foi considerado, juntamente com o tato, o primo pobre de nossos outros sentidos: o olfato. A partir da segunda metade do século XVIII, porém, como nos mostra Corbin, opera-se uma verdadeira revolução olfativa. Os diversos cheiros são analisados e classificados. Os maus odores, antes tolerados, tornam-se insuportáveis. Passam a ser vistos como propagadores de doenças, arautos da morte e da putrefação. Uma espécie de mania de desodorização toma conta não só dos guardiães da saúde pública, como da população em geral, tendo como resultado o "silêncio olfativo" que hoje nos cerca. Alain Corbin mostra, com uma erudição que cativa e impressiona, como esse processo de purificação - em que se declara guerra não apenas às cloacas, às ruas insalubres, mas também às classes menos favorecidas - coincide, e não por acaso, com a ascensão da ordem burguesa e de seus valores. Um mérito bem maior do que o de saber se ele teria ou não influenciado o célebre romance do alemão Patrick Süskind, O Perfume, hipótese sugerida pelo jornal mexicano La Jornada."Na partida, uma história de odores, uma arqueologia dos narizes burgueses, e, na chegada, descobre-se uma pintura impressionantemente precisa da sociedade francesa do século XIX. Sob o manto dos eflúvios representam-se as diversas cenas de um ato social decisivo: o surgimento do mundo burguês."Dominique-Antoine Grisoni, Le Matin