Sándor Márai revela nestas memórias as raízes da fina observação de personagens, regras e subentendidos que marcam sua obra de ficção. Traduzido diretamente do húngaro por Paulo Schiller.
Sándor Márai revela nestas memórias as raízes da fina observação de personagens, regras e subentendidos que marcam sua obra de ficção. Traduzido diretamente do húngaro por Paulo Schiller.
Escrever as próprias memórias aos 34 anos pode parecer um pouco estranho. Mas não muito se o autor das tais memórias puder contar que, nesses 34 anos, sua cidade natal mudou de país - aliás, seu país natal já não existe -, ele rompeu com a família, a Europa enfrentou a primeira das suas guerras mundiais e o sistema de valores em que ele foi criado se acabou.
Confissões de um burguês são as memórias do escritor húngaro Sándor Márai. A obra pode ser classificada como um romance de formação, no qual o autor apresenta e analisa sua casa e sua família, os antepassados que o forjaram, a formação escolar, o trabalho como jornalista e as diversas cidades em que viveu até resolver voltar.
Mais que uma coletânea de impressões de uma vida em tempos conturbados, Confissões de um burguês apresenta as raízes da obra de ficção de Márai: é um estudo meticuloso da formação do próprio autor, desde as descrições cuidadosas da casa onde nasceu até as auto-análises paradoxalmente lúcidas e ponderadas de alguém que se encontrava quase permanentemente em estado de revolução. Mais ainda, é também a revelação do processo em que se firmou em Márai a certeza de que não podia fazer outra coisa senão escrever, e de que não podia escrever senão na língua materna. Certezas forjadas em meio a tanta turbulência são duradouras: banido da Hungria em 1948, ele continuou, no exílio, a escrever em húngaro, mas só voltou a ser publicado com o fim da Guerra Fria.
"O húngaro Sándor Márai foi o cronista perspicaz de um mundo em colapso." - Le Monde