O total desencantamento com a relação entre escritores no meio literário paranaense, a quem o narrador batiza de "pavões da província", motivou Miguel Sanches Neto a escrever este romance de pinceladas autobiográficas. Chá das Cinco com o Vampiro conta a história de Beto, um jovem aspirante a escritor que, assim como o autor, troca sua pequena cidade natal por Curitiba, onde se transforma em jornalista respeitado e se vê envolvido num círculo vicioso de mesquinhez e inveja. Longe da rotina de brigas com o pai alcoólatra e a mãe superprotetora, o protagonista encontra a independência almejada e se aproxima de um escritor excêntrico que o faz de discípulo. No entanto, a amizade dos dois não dura, e Beto logo entra para o rol dos inimigos do autor, conhecido pela paranóia em manter sua privacidade. Sobre suspeitas de que Chá das Cinco com o Vampiro contaria uma polêmica versão da amizade rompida de Sanches Neto com Dalton Trevisan, escritor notoriamente avesso a entrevistas e de quem ele havia ficado amigo na temporada curitibana, o autor esclarece: "Este livro trata das relações entre um jovem escritor e um campo literário e todos os personagens são seres de ficção - valem pelo que representam dentro do romance, e não fora dele. Digamos que é a minha versão para o Ilusões perdidas, do Balzac", compara Miguel. O resultado do caminho literário escolhido por Sanches Neto em Chá das Cinco com o Vampiro é um livro que envereda com sucesso pelo gênero romance de formação. Valendo-se de personagens que lutam com sua incompletude, o autor usa a história antiépica do jovem em busca de si mesmo para refletir sobre a solidão do escritor. Paralelamente, traça um painel ácido do mundo literário, com seus personagens quixotescos e suas batalhas de ego.